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Achei de morrer

Marcelo Pimenta

Achei de morrer (imagem:Marcelo Pimenta) Salssisne

Para aqueles que nunca morreram é bom que se diga, menos por explicação, são duas as formas. Você pode deixar de ser visto, sentido se aprouver, ou pode deixar de se ver.

O interessante, mas nem por isto menos triste, é que o você morrido não saberá onde perdeu sua ausência. Deixar de ser visto pode ser parte do mesmo vazio que o olhar para o vácuo interior. O vivente incauto segue por becos e ruas, levam a lugares excêntricos, onde o fim sempre volta a um começo desconhecido. Conhece esse ritual como vida.

Você que morreu não saberá de nada. Perdido em poesias, nunca terminam, terá a sensação da vida inexistente. Morrer na forma confunde os sentidos com o desaparecimento do conteúdo. Vacila entre encontros imaginários e a sensação do completo vazio de si. São momentos doces quando consegue se sentir igual a tudo, parte. Consegue pertencer à tristeza humana.

Depois sente saudade de pertencer a outros. Esse desencontro do ser íntimo com o vivente que ama e odeia não tem fim. Sente-se jogado daqui para ali. Você se machuca muito com o impacto entre um e outro muro. Terá tempo de sofrer com todos e verá que a felicidade não passa disso.

Você poderia viver eternamente assim, mas, em algum momento, entrará em um elevador pequeno e tudo deixará de ter sentido quando o aviso, pregado torto na parede da frente, te anunciar: com profundo pesar informamos o falecimento do Sr. Fulano de Tal, morador do apartamento 1202.

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