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Há tempo?


Em leito esplêndido (imagem: Google) Salssisne

Disfarço os rodeios de caricaturas, me elegem a prender ofícios, derramam tréguas em cedências clandestinas. Insisto em contramão de passatempos. Sinto-me uma beirada desajeitada em esquecimento da manhã, alguém a dar a sola ao descabido. A prender-me, os cordéis emaranhados do pertencer sem alforrias. Distraídas as garras assanhadas a cravar os rastros do encanto, afiadas na areia morna e desistente. Deslizo em entranhas, sigo remando cheganças do abstrato. Até onde escuto, a memória conversa surda em descuidos de mim. Vejo-me em fila de sofrimentos, como se estivesse, enfim, encontrado esta trupe de incautos, de tantos despercebidos, surrados em brigas de consciências. Tenho, acho que proseiam comigo, revelam o reverso da espera, contam-me, em cochichos de face de ouvido, a melodia desafinada, a inexistência da graça. As alegrias mentem.

O vento suave um dia me soprou, foi no tempo das levezas de corpo, nas leviandades espalhadas em olhares de construir sorrisos de circo. Caminhou em pés e hoje grita canções sonolentas, esquecidas as frases da vida. Eu, apeado do logro, apuro-me sem chances. Desquero a prudência e faço trato com pensamentos de retorcer ânimos. Nem me animo. Até aqui foram cambalhotas em caminhos, trilhei com braços fortes, levavam-me os colos da benquerença. O pacto verdadeiro não escolhi, acolheu-me. Um olhar que não ultrapassa a esquina acanhou meus passos, até me ver parado, aleijado de outros tempos que não viriam. Perdi minhas estribeiras, não vi o estrago abeirar. Presumi perdurante os conchavos de felicidades, não costumei com cheiro de ausências.

Já tropeço em soluços, nem chorei, não chorarei em desânimo. Inunda-me a visão de descrenças, cortam-me a face o descaso dos grifos, sangro invisível a alma rasgada, contento a mania de vida com versos. Tramei ousadias com os canteiros em diálogos de calcanhares de uma cidade que pari corajosa, formosa de flores, encantada de signos. Restam os brilhos anônimos. Devo ter deixado pistas do belo, uma fita de cores a denunciar as trilhas recusadas. Olhos de escuro, mãos de regresso, acolheria a delicadeza de sedas, suspiraria em alentos, desgravaria tristezas e asilaria o sussurro distante em recusa de ouvir.

Em algum momento me perdi em coragens, bailei com alegrias, molhei-me em chuvas de encharcar euforias. Partituras do eterno, distante o poente de vida. Então vejo meu sol em vermelho, cai em noite. Desvivo querências. Calo tudo ao contrário e procuro novas razões, outros remos. O aparte escurece, me espremo em insônias de dia, espanco-me ao contrário, o desatino acordado.

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