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Marcelo Pimenta

Eira de brincar

Atualizado: 9 de fev. de 2021


Nem caí.

Cansada? Também não. Sem me ver, contando lonjuras, você me conta, mesmo assim você indaga,

preciso,

um serpentear de palavras, dispersas, voam dispersas, sou eu a amontoá-las em sentido,

preciso.

Era, sim, um terreiro grande de faltar-me altura de precisar, divisar fim. Corria longe às terras batidas,

pelo terreiro a olhos perdidos,

só terras,

e sapecava os pés no quente do meio-dia porque me cabia em seu colo, em pouco, sem me ver você sabia.

Voltava o corpo nu, quase nu, seus braços já me apontavam,

seu colo,

no exato instante, eu no ar, pedalando vento,

caía.

Sempre fomos um surto de brincadeiras, de pulos no escuro do susto, quando nas alturas me levavam tonturas, escondia o frio na barriga,

era decorada nossa coreografia,

precisa,

eu que nascia sempre em seus braços, como se incerto fosse o passado, se apareço sempre aqui e te beijo.

Nem cansada.

Ausente, esquecida do forno, do calor refletido, terrado, terra em chamas.

Te chamo e nem precisa,

você já me olha, seus olhos me escutam, é você que me encontra,

lenta, rápida, tonta.

Perco meus rumos, quando você desaparece não vejo meu lado,

caio na cilada de ter me acreditado em sua sombra, meus defeitos te entreguei e, sem reclamar, você foi apenas parando

distante,

adiante.

Eu corria mais para te alcançar,

cansada.

Nem caía.

Fito o momento, preciso, cismo encontrar o cume da felicidade extrema, quando o próximo passo só o abismo podia, pilha de buracos,

ilha de amordaçar meu sorriso.

Já fomos, somos nós entre tantos sonos, o tédio nos consome, falta carinho,

falta o balé esquisito.

Sinto seu tom sem gosto, quando minha voz não te atinge,

te grito,

seus ouvidos me esquecem. E meus pés queimam, choram, falta o desenho do ninho, apenas o desenho via,

já o tinha, ninho, onde chegaria enfim, outra vez, sempre, não.

A alegria já me ignora, meu desenho é carvão no cimento, só, nem finge virar você, que não vira, não me espalha ao mundo, encolhe,

nem a mim recolhe.

Foge, finge grossuras e me desvalem as lembranças. Arranca seus braços indigentes,

cai podre sua boca de palavras certeiras, de atingir meus desejos,

de beijos.

Enterra lágrimas que deitaria, finge, finge porque é o que resta,

me empresta,

a sela de cinismo para atravessar o terreiro e voltar, o bafo quente na curva de chegar, deitar na cama desnecessária de onde partíamos, me desinflar de alegrias. Cansada.

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