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Resumo de Borboleta


A pedra de José (ilustração da animação Morte e Vida Severina)

Caso volte a guardar-me não seja sua a ausência a passear meus silêncios. Foge de mim se me busca, cobre-se de folclores até confundir-me em mentiras suas, assanha lembranças do não tido se te excita morar na sombra dos meus olhos. Deslizo por sonos desconfiados, perco-me no encontro do sonho com a dúvida do acordo, acordo enfim. Não me acompanhe em despiste, evita-me nos enredos de embaraçar desejos, nem conheço. Me esqueci no passado e voltei, a parecer que seriam manchas os negrumes que a luz talhou insistente, imagens a me desconfiar, a me mostrar longe, paralítica a silhueta de tentar cuidados antigos. Maltrato indagações escondidas, desconto meus rumos nas esquinas que já me negaram satisfação. Por onde posso ter vindo caem lembranças sóbrias.

Acenou-me um dia em proezas de borboleta, cinza, pequena, à beira de consumir-se nos brilhos quentes das lamparinas cansadas de sombrear. Quis-se flanando em guias titubeantes, estalos em mudas de caminho. Borboleteava hesitações, escolhia pouso em desajeito, amiúde, meandrosa de si. Resumia coerências em preludio de partidas, partituras da canção soprada aos sentidos matreiros. Cuidava de atiçar vontades, ilustrava carícias sem brio. Dava mesmo de bulir com o mundo, de trançar liberdades, rodopiar capenga sem esquentar lugares. Calhava enxotar o chão antes, iludia, criando o instante mesquinho da espera aliviada que antes de nascer em alegrias inquietava, instruía emoções ao debando, então dançava surda e só.

Com o tempo veio o costume de alardear o estalido de asas, sem que assim prevalecessem chegadas. Veio o vadiar com o dessabido, acariciava em desvelo de contar em pormenores e maiores. O tormento dos rabiscos de fazer planos negou, depois esqueceu. Nem o acordo levou quando o melindre soprou o vento. Tinha outro papel onde escreveu uns deveres com a vida, cismas quietas, levava bem apertado, de modo baralhar com os dedos, fazer-se mão faltosa antes de confundir-se com o voo, à mercê do denodo trancado. Não a vi mais, apenas meus cantos se confundiram com as trilhas deixadas, segui o escrito porque não temi encontrá-la em algum festejo efêmero, um pouso generoso, não houve.

Cuspi orgasmos. Foi no dia das andanças terminadas, um vulto longe despido em prudência, nem era ela que de voar esquecera, de poisar acudira, foi mesmo meu olhar que correu manso demais, caiu de preguiça antes do brilho distante, a borboleta em cinzas nem viu. Escapei por outros ânimos e nem notei a divisa de tempos. Quando meu onde ir se confundiu com destinos entendi o trapaceio de ausências.

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