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Marcelo Pimenta

Ainda o muro


Imagem: Google

Isento a noite, antes que o sono arraste lembranças, a solidão me enxerga, rasga-me as cautelas, circulo queixas, penso mais alto que a dúvida, tapo os ouvidos pequeninos de escutar pensamentos. Será que um dia você saberá me contar o que importa? Será que te importa, ou só em mim se escondeu a dúvida? Você sabe, dito em tom de pergunta, quis ter encontrado esta última conta. O alinhavo pendente fez-se com linhas de muitas cores, não percebi as pontas em pares de amarrar história, fim de história, como fosse. Este silêncio ainda me sacode, grito abafado a rondar pelo tempo pesado, a omissão impaciente não sabe fugir, eu a amansá-la, a vergonha paralítica. Sento em penumbras, apuro-me, mas não sei mais entender seu murmúrio de sono. Destoco a ilusão.

São assim os fins, surdos, convictos. O muro do recomeço estacionado na mesma trilha, ali deixei a primeira lágrima, talvez tenha escorrido pela parede ainda invisível. Fiquei a prender vistas pelo caminho cortado, depois alojei olhares no pequeno buraco de um tijolo mal assentado. Não me vi a seu lado, vi pouco, vi nada no espaço que me encolheu, parecendo mesmo que me esqueci no meio da brincadeira, todas as cadeiras tomadas e eu lá atônito, a cabeça em revolta buscando um canto inexistente. Eu lá destacado do enredo, eu dessabido, entre tantas vozes distraídas só eu não percebi minha ausência. Você não mencionou o jogo, traíram-me as regras, porventura tolas, como seriam todas.

Se seus ouvidos estivessem perto dos ventos talvez te chegassem os sussurros de certezas atrasadas, da próxima curva onde o respiro se confundisse em segredo apenas sentido, uma lonjura suave e a vontade de correr e sorrir. Mas o engodo dos desejos incertos concertam fins em começos, o cheiro da novidade é intenção de coragem em traje ainda rasgado, enfeitam-se nos atalhos, tantos, o cultivo de curiosidades cativa a memória em inércia.

De hoje, sentado em lembranças, indago as mesmas certezas. Em mim pesam como um fardo a justificar a andança incerta. Já comentei que não tenho, senão digo agora, em tom distante. Usei um destino fantasiado de vida para te ver sempre a um toque, a um carinho, um beijo de esquina talvez. Esqueço meu lado amiúde.

Se me trai o esquecimento te diria que animei tais festejos, sem arrependimentos. Talvez te contasse, em contrariedade de ideias, respirei alívio, uma sensação pura de querenças, uma vez apenas, esta. E se me indaga a razão, digo, sem compreender, que sim, tive certezas. Se me escuto, um som antigo me lembra da viagem solitária que encerraria a busca original, uma época assim, fecho de ano ordinário, amor contado em quilômetros a mostrar-me a essência. Você nunca me perguntou da evidência, desconheço se tem validade o sentido, mas sempre trouxe em precaução. Te considerei na curva das expectativas e nem te perguntei se correria comigo, ou não te ouvi fingindo.

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