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Marcelo Pimenta

Em fim

Atualizado: 9 de fev. de 2021



sobre o que falaríamos, se já não tivesse o tempo se encarregado?


Quais seriam nossas palavras, se já não arruinadas em algum varal?


E nossas desculpas, se já não devastam a solidão?


Se nela te criei, aqui mesmo secou o que teria a te dizer. Que me diriam folhas secas além do estalido eventual, se foi você a pisá-las?


Me disseram e você nem ouviu, seus pés falam, você sabe, quando me pisam, trocam de lado e você me pula, puta, me pula. Minhas costas ainda ardem, pó das estrelas trituradas, recebi mudo naquela noite, as mãos mudas, me desviei de você e caí a seus pés, mudos. Quais palavras estariam emolduradas em nossas gargantas?


Saberíamos dizê-las em um beijo murcho?


Esquecê-las em um toque leve no ombro?


Deixa pra lá, espero uma frase, apenas, vinda de fora, sem efeito, uma troça ao tempo, se chove, se frio, se arde mesmo este tempo seco, o estalido foi minha pele esfolada.

[Foto: Kika Martins Ribeiro]

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