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Marcelo Pimenta

Dois Poemas


Dois Poemas (imagem: Marcelo Pimenta) Salssisne

Tons que houveram tentar o equilíbrio da mais bela melodia, ventou brincante a beliscar os ouvidos de corações desinteressados. Teimoso o tempo de guardar as paixões, teimosas elas, escondidas em tramas de entreter a criança. As inocências conversam secretas com desejos dessabidos, aparecem já nascidos, paridos do encontro de emoções em contento de não se contar, assim criando a existência de fingir-se, de sempre ter sido. São assim, nem todas, poucas. São quintais de florir sentidos, de comover primaveras em desapego de estações, em sensações de amor distraído, esquecido no banco de decifrar futuros.

Te vi em tarde de correrias, de brilhar sorrisos, de desinteressar olhares e sonegar a miragem do resto. Acariciei de longe um cabelo de incomodar seu riso de olhos, foi o primeiro canto dos tons, ainda em barulho de inquietar sorrateiro, faceiro a amorar a timidez do absurdo. Também corri, desentendi meus sentidos, fugi da onda a fazer-se gigante, afoguei-me em você e nem soube. Você seguiu em alegrias livres, esqueci meu segredo em seu corpo, inundei-me de querenças, careci de entender as carícias de te ver, te esquecia amiúde, guardava o cordão de puxar o anseio inerte. Tramei com a vida uma dança de sonhos, costumei sua imagem como um desenho lindo que existiria em papel sempre embolado, só meu. Te guardei em rabiscos.

Sem os avisos de enganar surpresas, te encontrei em alegrias entretidas de você, a mim nada mais que vida. Pareceu esquecida daquele canteiro tão belo onde prendi meu disfarce. Levava o cordel fino e tentei segurá-lo, como se assim não te perdesse mais. Nos enrolamos em prazeres omissos, desembolei meu papel e te mostrei a pintura encharcada, mãos riscaram arriscadas, afogamos juntos em ternuras, intensos os momentos abandonados, reencontrados em curvas da trilha melindrosa, enfeitada no escuro de dias distantes. Te ouvi, seus sussurros intensos, sua correria em voltas de gostar e gostar mais. Te tive em alforrias do deserto, no banco esquecido de flores. Você entrou onde sempre esteve, encontrou o sempre tido, me teve como era cantado. Nosso encanto era invertido, me via de você, troquei de olhares, não para mais me ver, mas te enganar e assim mais te amar.

Senti tanto encontro, decorei tanto seu canto, devorei seu corpo. Perdido em você não vi quando o atalho feriu. Meu papel desvirou, afaguei seu cabelo, quis nosso poema, quimeras a remendar todas as algazarras e ferir o triste. Quando notei o desenho rasgado você já levava um pedaço. Outra vez o meu, em verso preso, que não soube mais onde guardar.

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