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Brotança de Neve


Em leito esplêndido (imagem: Google) Salssisne

Lambuza o chão um mato branco. Assim deu de perceber o Taquim, os olhos em frincha de janela, cheios de amanhecer, acharam prudência descalça e foram interrogar o local manipulando descrenças. Lá de fora o grito entrou pelo mesmo buraco. Foi a mãe que levantou assustada, visão girando sem abrigo a indagar do mato pela verdura faltante, do terreiro pela lisura do leito alvo e alimpado. Nem sabe o que saber, e cada um desadormece de sonhos e divisa o mesmo susto em sonolência, afagam desentendimentos. Seu Chico também já acordou. Repara a algazarra enquanto vai tomando tenência do dia, resmunga à tropelia. Não avivou o tanto de precisão para atinar dos acontecidos, é o Taquim que anuncia a brancura em derredor. Confuso, clama pelo café pousado em bule na esquina do fogão. Deve ser algum encosto do frio. A mulher lembra da água de bica virando pedra quando madrugava. Mas isso era no tempo de antigamente. Seu Chico sacode os pensamentos e dispara as desordens, todos para dentro! E lá vai a fila torcendo cabeças a reparar o descaso descolorido. A Maria já em rezas de procurar alma.

Alisam silêncios até o Taquim convocar audiência e, tripulando conhecimentos, anunciar a tal neve. Outra vez olhares entortam pescoços curiosos. É tramoia do frio para amansar a quentura do chão. Cai branco no lugar de chuva. A Maria continua bulindo contas de terço, amansando cismas de ardores em cinzas pálidas para não sujar os pés de deus. Bobagens! Sai Seu Chico em descaminhos de descobrir as verdadeiras origens do descapinado. Meandroso, enviesa à venda para comprar velas, de modo ilustrar as conversas com santo. Pisa a areia grisalha, sangra de água, maneja caminhos em bravuras desmascaradas. Chegado, corre o chapéu a recolher os esclarecimentos, a aparência pousada em calmarias desnutridas.

De cima dos livros ainda o Taquim degela saberes. A Maria reserva um ouvido, o outro em resguardo pelo murmúrio divino. Escuta que o sol amolece o chão e aquilo tudo vira água, um rio a entrar porta adentro e aí é um deus nos acuda. Ela tortura as crendices em aflições de espera. A meninada empolgada já navega águas ausentes, entrariam em frestas, nadam a imaginação em funduras transparentes, em trança-trança de lambaris e tilápias. Taquim, ainda empoleirado em escolaridades, manivela linha frouxa.

De fora veem seu Chico com outros desacostumes. Notam a claridade do dia e a derretência do solo. É o pai que declama a desfeita da venda em pontos finais, aqui não merece trela essa neve, é o terreiro mesmo que esbranquece, aborrecido de ser sempre terra e verde. Da janela olha para o céu suspeitoso, a brancura brota é do chão!

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